Simbolos

 
 
Afinal, o que é um símbolo?

Como toda ideia, seu significado depende da forma como é conceituada.

Comumente, a palavra "símbolo" é usada para designar uma imagem que representa, de maneira fixa, uma ideia. Por exemplo, a imagem de um círculo vermelho com uma diagonal vermelha cruzando seu centro é quase que universalmente associado a ideia de "é proibido". É o símbolo que representa a ideia "é proibido".

Esta aplicação da ideia de símbolo, mais corriqueira, tem uma exigência para que seja eficaz: o significado da imagem/símbolo deve ser amplamente conhecido, aceito e usado num dado contexto cultural. Quando os invasores portugueses chegaram ao Brasil, os povos que aqui habitavam não faziam ideia do significado dos brasões familiares que os invasores portavam, apesar destes terem um significado evidente entre os portugueses.  

Símbolos, assim compreendidos, têm um significado único. Como veremos a seguir, estes na verdade não deveriam ser chamados de "símbolos", mas sim de "signos" ou "sinais" (nenhuma relação com o Zodíaco).

Entre os diversos outros conceitos de símbolo, que extrapolam esse uso mais simples, trago à pauta aquele  utilizado por Carl Gustav Jung.

De acordo com o psicólogo e psiquiatra suíço (e que já chegou a possuir a maior biblioteca de textos alquímicos da Europa, diga-se de passagem), símbolo é uma imagem que apresenta, da melhor maneira possível, algo que ainda não é plenamente conhecido pela Consciência.

Vamos elaborar este conceito. Primeiro, precisamos compreender minimamente o que Jung entendia como consciência e inconsciente. Minimamente, repito. Pois é um tema extremamente complexo e vasto. Caso queiram, podemos abordá-los em outras postagens.

Consciência é um campo da psique cujos conteúdos nos são acessíveis. Tudo que conhecemos faz parte de nossa Consciência. Temos suficiente autonomia no campo da consciência para elaborar ideias, fazer associações, evocar memórias, refletirmos sobre nossos sentimentos, etc.

Inconsciente é tudo que não faz parte da Consciência (não entrarei aqui nas subdivisões de Inconsciente Individual, Cultural e Coletivo. Fiquemos apenas com a ideia básica). Não temos autonomia sobre seus conteúdos desconhecidos e portanto, por uma questão lógica, não podemos evocá-los de forma voluntária, elaborá-los ou refletir sobre eles. Os conteúdos Inconscientes se manifestam de maneira indireta, como sonhos, lapsos de fala, sintomas somáticos, etc. Não é possível saber o que são ou qual é a real natureza, dos conteúdos do Inconsciente.

Agora voltemos aos símbolos. Para Jung, o símbolo é a imagem (e por ser imagem já está no campo da Consciência) capaz de promover a ligação entre esses dois campos da psique. Porque, em si, traz elementos já conhecidos e outros que causam estranheza, angústia, espanto, maravilhamento, curiosidade - enfim, sensações que nos instigam a ir além do que já está estabelecido. Nos incitam a investigar, explorar, buscar, dar asas à sensação de que "tem algo oculto", "algo a mais". Jung chamava esta capacidade de Função Transcendente do Símbolo.

Símbolos, portanto, nunca podem ser criados por um exercício de vontade. Afinal, quando tomamos a iniciativa e produzir uma imagem, estamos fazendo uso do campo da Consciência - o único ao nosso alcance. Símbolos são produzidos espontaneamente, naturalmente. Surgem nos sonhos, nas visões místicas, nas inspirações.

O objetivo do símbolo assim compreendido é produzir a união de aspectos conscientes e inconscientes, de maneira que o campo da Consciência se enriqueça, expanda, ganhe mais flexibilidade. Além disso, tal ganho de conhecimento não é feito aleatoriamente. Existe um movimento compensatório, homeostático, entre a Consciência e o Inconsciente, de forma que a primeira receba o conhecimento necessário para que equilibre alguma tendência que no momento se mostra muito intensificada ou enfraquecida.

Dito isso, acredito que tenha ficado claro que o significado de um símbolo é criado pelo indivíduo. É algo único. Novo. Não é possível recorrer a um "dicionário de sonhos", por exemplo, já que o só o indivíduo no qual o símbolo surgiu é capaz de elaborar seu significado baseado em sua experiência, sua vivência, memórias, crenças, afetos.

Tão logo um símbolo seja suficientemente decifrado pelo indivíduo; tão logo a Função Transcendente se cumpra e o conhecimento portado pelo símbolo seja integrado à Consciência, o símbolo se torna "morto". Vira um signo. Aqui, signo tem o mesmo significado que abordamos no início dessa explicação: uma imagem que representa uma ideia única, fixa, estática.

Ficou claro? Caso tenham alguma dúvida, escrevam nos comentários ou em nossas redes sociais! Gostaram? Divulguem o Gabinete de Estranhezas!

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